O conhecimento escolar é um dos elementos centrais do currículo. Apre(e)ndê-lo é condição indispensável para que os conhecimentos socialmente produzidos possam ser apreendidos, criticados e reconstruídos por todos. Assim, é indispensável, também, um professor que conheça bem os conteúdos, que os escolha, organize e trabalhe de maneira adequada para que os alunos aprendam (de maneira adequada, também, por consequência).
Esse é um ponto que exige muita discussão, a meu ver, pois os conteúdos devem ser escolhidos e abordados de forma que sejam relevantes e interessantes para os alunos. Pois "o que não significa, não fica". Isto é, é importantíssimo que os conhecimentos escolares facilitem ao aluno uma compreensão da realidade em que vive e que promova a ampliação do seu universo cultural. É, ainda, importante que esses conhecimentos despertem no estudante um "ser pensante", crítico, que seja ativo em mudanças sociais e individuais.
E de onde vem esse conhecimento? Quem o constrói, afinal?
O conhecimento escolar tem características que o distinguem dos demais conhecimentos. Ele é preparado a partir dos conhecimentos científicos e dos cotidianos, que chamamos de "âmbitos de referência dos currículos", que podem ser:
- as instituições que produzem o conhecimento científico;
- o mundo do trabalho;
- os desenvolvimentos tecnológicos;
- as produções artísticas;
- as formas diversas de exercício da cidadania; entre outros.
Desses âmbitos, deriva o conhecimento escolar, mas não tudo. Eles são selecionados e "preparados" (descontextualização, recontextualização, didatização) para que possam ser parte do construto do conhecimento escolar. Isso acontece porque é impossível que todos os conhecimentos sejam transferidos "puramente" para a escola. Existe, sim, uma "peneira" e uma transformação. E é claro que tudo isso afeta o trabalho pedagógico. De que forma? Está claro que um grau de descontextualização se faz necessário no ensino escolar, mas é preciso tomar cuidado para que não se extrapole esse grau, sob a penalidade de serem perdidos os sentidos dos conhecimentos. Conhecimentos descontextualizados perdem conexões com o mundo em que são construídos. Eles desfavorecem um ensino reflexivo e uma aprendizagem mais significativa.
Também vale ressaltar que as "escolhas" de conteúdos que farão ou não parte do conhecimento escolar sofrem efeitos de relações de poder. Podemos ver isso nas grades curriculares. Uma ou outra disciplina, tidas como mais "importantes" para o desenvolvimento humano, ganham mais espaço na escola do que outras, como as que se aproximam das artes e de atividades corporais. Nesse processo, também há a hierarquia entre os saberes socialmente reconhecidos e os saberes populares.
E o livro didático? O que ele contribuiu para o aprendizado dos conhecimentos escolares?
Bom, já está claro que esse tipo de conhecimento passa por um processo (includente, excludente) de elaboração. Também está claro que deve haver um meio termo entre a contextualização e a descontextualização. Tudo o que é de mais é ruim. De menos também.
Para tanto, em nosso país, há o Programa Nacional do Livro Didático - o PNLD - que leva a todas as escolas o livro didático como forma de mediar o conhecimento. O livro didático é muito importante para o desenvolvimento do conhecimento, pois ele oferece subsídios ao professor e, também, ao aluno.O que não seria de todo ruim se ele não fosse a única fonte de conhecimento para muitos dos professores.
Com o uso diário do livro didático, os docentes esqueceram o verdadeiro uso desse livro: ele serve como instrumento de apoio ao professor e ao aluno. Se todo o conhecimento se esgotasse no livro didático, então para que haveria de existir, ainda, a classe docente? O professor deve saber que o livro serve para que o ensino seja mais dinâmico e, algumas vezes, como o nome já diz, mais didático, para que o aluno não "sofra" em determinados conteúdos. Ele é um mediador. O professor deve, sim, buscar em outros meios situações e atividades para os alunos de forma a dinamizar o ensino.
Sou a favor (muito!) do uso do livro didático. Mas é preciso que os professores estejam dispostos para (re)discuti-lo.
CANDAU, V. M. e MOREIRA, A. F. B. Currículo, conhecimento e cultura. In: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Brasília, 2007.